Hashis de marfim



Na antiga China, um jovem príncipe resolveu mandar fazer, de um pedaço de marfim muito valioso, um par de hashis*. Quando isto chegou aos ouvidos de seu pai, que era um homem muito sensato e responsável, este foi ter com seu filho e explicou-lhe:

— Não deves fazer isso, porque esse luxuoso par de hashis pode levar-te à perdição!

O jovem ficou confuso. Não sabia se o pai falava a sério ou se estava a brincar. Mas o rei continuou:

— Quando estiveres à mesa com teus hashis de marfim, verás que não combinam com a louça de barro que usamos à mesa. Vais precisar de copos e tigelas de jade. Ora, as tigelas de jade e os paus de marfim não admitem iguarias grosseiras. Precisarás de cauda de elefante e fígado de leopardo. E quem tiver comido cauda de elefante e fígado de leopardo não vai contentar-se com vestes de cânhamo e uma casa simples e austera. Irás precisar de muita seda e palácios sumptuosos. Ora, para teres tudo isto, vais arruinar as finanças do reino e os teus desejos nunca terão fim. Depressa cairás numa vida de luxo e de despesas sem limite. A desgraça irá atingir os nossos camponeses, e o reino afundar-se-á na ruína e desolação.

Os teus hashis de marfim fazem lembrar a estreita fissura no muro de uma fortaleza, que acaba por destruir toda a construção.
O jovem príncipe esqueceu o seu capricho e mais tarde veio a ser um monarca reputado pela sua grande sensatez.

(Conto do filósofo chinês Han Fei, oito séculos antes da nossa era.)

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Gosto dessa história porque me lembra de uma cena engraçada com minha mãe...
  
No Jardim de Infância uma menina roubou meu casaco e não quis devolver. Para me vingar roubei sua caneta com cheirinho de morango, e só iria devolver se ela me devolvesse o casaco (que tinha meu nome marcado nele ¬¬). Ao chegar em casa minha mãe me viu fazendo os deveres e perguntou:
 - Filha, de onde tu tirou essa caneta da moranguinho?
 Depois de muita enrolação, contei a verdade pra ela. Imaginem uma baixinha ficando vermelha e gesticulando com fervor, falando alto e dizendo: 
 - Criatura, isso é errado... hoje é uma caneta, daqui a pouco vai ser um carro e depois uma casa inteira...
 E assim continuou por váááários minutos...
 
Moral da história, fiquei com tanto medo de me tornar uma ladra de casas inteiras que nunca mais peguei nada de ninguém... rsrsrsrs.
Não foi tão chique quanto o rei, o principe e seus hashis... mas eu entendi o recado. XD
Valeu mãe! ^_^

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*Hashi: palitinhos usados como talheres pelos orientais para pegar alimentos